27 de janeiro de 2011

Sugestão de Leitura



« diz-se em uruguaio quando se procura afirmar com ênfase, e  respondeu Mario Benedetti quando a decência perguntou se havia que arriscar pelos pobres, pelos fracos, pelos condenados da terra, pelos que não tinham direito à alegria, pelos que sonhavam com uma existência justa, por uma palavra "amanhã" plena de sentido.»

Esta frase, que dá início a uma das histórias que Luis Sepúlveda recolhe neste livro, resume perfeitamente tanto o espírito que guia a vida do autor chileno, como as suas palavras. Palavras seguras, potentes mas sussurrantes, que sempre nos interrogam sobre o estado do mundo e das suas gentes. Foi essa interrogação constante que consagrou Luis Sepúlveda como um dos mais originais escritores de língua castelhana. 

Nestas 25 histórias caminhamos por diversos cenários, distintas situações, países daqui e dali, mas as palavras do autor remetem-nos sempre para um mesmo território literário: o território dos derrotados que se negam a aceitar a derrota. Um território bem conhecido dos leitores de Luis Sepúlveda que, neste livro, se reencontrarão com algumas das melhores passagens da sua extensa obra literária.



Clique nos Links para ler 2 histórias:

Um Velho que não gosto


Um cão chamado Edward

22 de janeiro de 2011

Textos de José Saramago

Essa vergonha de mundo

Sempre pensei que chegará um tempo em que a justiça não seja essa vergonha de mundo a que assistimos todos os dias.

“Yo no he roto con Cuba”, Rebelión, 12 de Outubro de 2003
In José Saramago nas Suas Palavras



A panaceia universal

Uma jogada genial nas sociedades modernas foi converter-nos a todos em actores. Tudo hoje é um grande palco: é a panaceia universal, porque fez com que todos nós estivéssemos interessados em aparecer como actores. E desvendamos a nossa intimidade sem pudor: relatam-se misérias morais e físicas, porque pagam. Vivemos num mundo que se converteu num espectáculo vexante, em que se mostra a morte em directo, a humilhação…

“La manipulación de las conciencias ha llegado a un punto intolerable”,El Correo, Bilbao, 8 de Março de 2003
In José Saramago nas Suas Palavras

Membros de um rebanho


Sempre acreditei que, para além da antropofagia directa, há outra forma de devorar o próximo: a exploração do homem pelo homem. Neste sentido, a história da humanidade é a história da antropofagia. Isto obriga-nos a um compromisso activo. Em primeiro lugar, temos a obrigação de não permitir que nos ceguem, pois se nos deixam cegos, comportar-nos-emos, ainda mais do que agora, como membros de um rebanho, um rebanho que avança até ao suicídio.

“Saramago, el pesimista utópico”, Turia, Teruel, nº 57, 2001
In José Saramago nas Suas Palavras

17 de janeiro de 2011

A Nazaré em 1911

Jornal A Nazareth - Fundo Local da Biblioteca da Nazaré

Poema de Garcia Lorca

Se as minhas mãos pudessem desfolhar


Eu pronuncio teu nome 
nas noites escuras, 
quando vêm os astros 
beber na lua 
e dormem nas ramagens 
das frondes ocultas. 
E eu me sinto oco 
de paixão e de música. 
Louco relógio que canta 
mortas horas antigas. 

Eu pronuncio teu nome, 
nesta noite escura, 
e teu nome me soa 
mais distante que nunca. 
Mais distante que todas as estrelas 
e mais dolente que a mansa chuva. 

Amar-te-ei como então 
alguma vez? Que culpa 
tem meu coração? 
Se a névoa se esfuma, 
que outra paixão me espera? 
Será tranquila e pura? 
Se meus dedos pudessem 
desfolhar a lua!!

16 de janeiro de 2011

Sugestão de Leitura

O filósofo José Gil classificou o mais recente romance de António Lobo Antunes, 'Sôbolos Rios Que Vão', como «um grande livro, com muitos aspetos insólitos e inéditos na escrita do autor».
«É uma obra torrencial e uma das mais belas de Lobo Antunes», disse José Gil.

Essa máquina literária «funciona em pleno em 'Sôbolos Rios Que Vão'», defendeu José Gil, já que «neste romance quase parece, às vezes, que se urde uma trama», da qual «a espera e não espera da morte será porventura o traço mais evidente».

Trata-se do mais autobiográfico dos livros do escritor, cujo narrador - designado como 'Antoninho' e 'Senhor Antunes' - recupera, após uma operação a um tumor no intestino e num estado entre o torpor e a dor, fragmentos da sua vida, recordando pessoas que a atravessaram e conduzindo os leitores, como que por um rio, pelas humilhações da doença, numa reflexão sobre a vida e a morte.


Porque «a doença paira sobre tudo o que se diz», José Gil caracterizou o livro de Lobo Antunes como «uma meditação sobre a morte» e «uma paródia de tal meditação», com «cenas de humor que atingem a desmesura».
«É certamente um imenso romance, faz-nos entrar num tipo de experiência não comum (.) e é, mesmo que não pareça, um grande romance de micro-afectos abstractos», observou.

12 de janeiro de 2011

Sugestão de Leitura

O mais recente livro de Gonçalo M. Tavares, Uma Viagem à Índia, de que Vasco Graça Moura disse «é um livro extraordinário. Estou convencido de que dentro de cem anos ainda haverá teses de doutoramento sobre passagens e fragmentos» vai ser publicado em Moçambique, Angola e Brasil por editoras do grupo Leya. Nestes três países de língua portuguesa, o livro será lançado em Dezembro.

Entretanto, em Portugal o livro está a suscitar uma viva reacção da crítica. Veja a seguir algumas dessas reacções:

«Uma Viagem à Índia é um livro que vai marcar com certeza, não apenas a História da Literatura Portuguesa mas provavelmente a cultura europeia» (Vasco Graça Moura, na apresentação da obra, CCB, 13/11/2010).

«Este é um livro a muitos títulos surpreendente. Não pelo ineditismo ou pela novidade das peripécias, não por aspectos empolgantes da acção, mas, desde logo, pela maneira como, nele, caleidoscopicamente tudo se eleva à dignidade de literatura enquanto meio para retratar, talvez dizendo melhor, radiografar a condição humana.» (Vasco Graça Moura, na apresentação da obra, CCB, 13/11/10).

«Uma Viagem à Índia, com consciência aguda da sua ficcionalidade, navega e vive entre os ecos de mil textos-objectos do nosso imaginário de leitores. Como são todos os grandes livros, e este é um deles.»(Eduardo Lourenço, prefácio à obra)

«É um livro cheio de fantasmas, fantasmas dos Lusíadas, fantasmas do homem contemporâneo, uma viagem, uma antiepopeia, e é um livro extraordinário. Estou convencido de que dentro de cem anos ainda haverá teses de doutoramento sobre passagens e fragmentos».(Vasco Graça Moura, «A Torto e a Direito», TVI24, 6/11/10)

«Uma obra que o confirma como uma voz absolutamente singular da actual literatura portuguesa. […] Em quase uma década de publicação, Gonçalo M. Tavares, 40 anos, afirmou-se como um «senhor» da literatura. Ousou agora seguir o canto de Camões em Os Lusíadas, mas para narrar a odisseia de um homem simples nos tempos que correm. Uma Viagem à Índia, que acaba de publicar e que Eduardo Lourenço considera uma «navegação de alma pós-moderna», é uma verdadeira epopeia «mental». (Luís Ricardo Duarte e Maria Leonor Nunes, JL, 20/11/10)
«Um texto que se faz a si próprio à medida que avança, desprezador dos códigos literários instituídos, dotado de uma filosofia do corpo […]. Livro absolutamente inolvidável por mais anos que se viva. Ou, de outro modo, um livro para a eternidade.» (Miguel Real, JL, 20/10/10)
«Volume com uma ambição literária ímpar.» (Visão, 11/11/10)
«Sob a forma de uma moderna epopeia (o que nem sempre coincide com uma anti-epopeia), ele é simultaneamente – e essa é uma das razões da sua grandeza – uma figuração interpretativa da época e uma teoria da forma do romance num mundo em que a realidade só fornece a esse género literário e à arte em geral, um terreno desfavorável, de tal modo que o problema central do romance é o fim das formas totais e acabadas. […] [Situamos Bloom na distinta família de que fazem parte o último homem de Nietzsche, o Monsieur Teste de Valéry, o Plume de Michaux, o Bernardo Soares, o Bartleby de Melville […] Mais do que uma personagem, é um princípio irradiante, nome da bloomificação do mundo. É a excelentíssima figura de um péssimo histórico, cultural e antropológico.» (António Guerreiro, Expresso, 6/11/10)

«Uma Viagem à Índia é o momento mais ambicioso de uma obra pessimista que não abdica da memória e da exigência.» (Pedro Mexia, Público, «Ípsilon», 29/10/10)

11 de janeiro de 2011

Al Berto - Prefácio Para Um Livro De Poemas

Herberto Helder por José Luís Peixoto.MP4

Histórias da Feira do Livro


O vento frio do Terreiro do Sítio cortava-nos a cara durante a noite quando fazíamos turnos de guarda aos pavilhões da Feira do Livro. Nesse tempo, os livros eram leves, pesavam menos do que agora. Um pacote deles carregava-se com uma força nova. Era uma alegria estender os livros nas bancadas, recolhê-los, voltar a pô-los. Cada um que se vendia significava mais uma vitória contra o fascismo, o obscurantismo, o analfabetismo, a favor da Revolução.
O 25 de Abril acordara ainda mais nas pessoas o desejo de obter livros até aí proibidos pela Censura: de autores como Marx, Gogol, Tchekov, Sartre, Lenine, Soeiro Pereira Gomes, Henry Miller, Rosa Luxemburgo, Nabokov, Engels, Ismail Kadaré, José Cardoso Pires, Arrabal, Marcuse, Jorge Amado, Genet, Gorki, Brecht, tantos outros, um mar de livros.
A Feira andou aos tombos por diversos lugares –  junto ao Elevador, na Praça dos cafés, na Biblioteca,
no antigo Operário Marítimo (ao lado da antiga Lota, hoje Centro Cultural e actual local da Feira) - e de todas elas permanece a memória dos encontros, das conversas, dos testemunhos de leitura, das novidades, dos prémios literários, das crianças a ler pelos cantos. Atéos roubos ( falemos antes de descuidos) eram de imediato perdoados. Se os roubavam era porque os iriam ler!
Algumas caras de veraneantes em férias foram ficando conhecidas. Voltavam no ano seguinte, em Agosto, e visitavam de novo a Feira. Muitas dessas pessoas confessavam que se guardavam para as compras de livros na Nazaré, aproveitando o desconto. Não adquiriam livros em mais nenhum lado. No final de cada Feira, contava-se o dinheiro das receitas e comprava-se dezenas de livros que ficariam a pertencer ao valioso espólio que é hoje a Biblioteca da Nazaré.
Os anos foram passando, outras gerações vieram juntar-se aos mais velhos, a Feira continua após
30 anos de vida. Os caixotes são certamente mais pesados, comprar-se-ão talvez menos livros porque a vida está cara e o espaço das casas não é elástico. Mas, apesar das dificuldades, dos cansaços,
das desilusões por algumas editoras não responderem à chamada como se queria, das noites a confirmar guias e facturas, dos jantares à pressa, do desfazer e embalar caixas, valeu sempre a pena fazê-la e vale a pena continuar a lutar por ela.
De entre as muitas histórias da Feira fica-me aquela amiúde contada por quem esteve ligado
a ela. A do casal de ribatejanos que confrontava os preços dos livros com o tamanho e número de páginas. Avaliava-os, sentia-lhes o peso com as mãos, hesitava na escolha, discutia de mansinho entre si qual deles levar tendo em conta os dias de férias e o tempo para o ler estirado à sombra de uma barraca.
Acabou por se decidir pelo mais volumoso, nada menos do que 800 páginas de leitura. Era o maior
romance da Feira, o “Exodus” do norte-americano Leon Uris. O casal saiu feliz com o livro na mão. Deve
tê-lo bem guardado lá em casa, na estante da sala, como um troféu do tempo em que os livros eram em
escudos e baratos!

Jaime Rocha

Historial da Biblioteca da Nazaré

A Biblioteca da Nazaré é uma associação cultural fundada em 2 de Abril de 1939 com o objectivo principal, expresso nos seus estatutos “a promoção por todos os meios ao seu alcance, da cultura e do gosto pela leitura”. Esta aspiração central, uniu um número considerável de ilustres personalidades, interessadas na promoção da cultura, das quais destacamos o Dr. Branquinho da Fonseca ao tempo exercendo a actividade profissional na Nazaré, e o Dr. José Maria Carvalho Júnior que desempenharia durante mais de 20 anos o cargo de Director da Biblioteca. Conscientes da necessidade da existência de uma associação cultural de cariz popular, que desenvolvesse o gosto e hábitos de leitura, levaram por diante a constituição da Biblioteca da Nazaré e, de tal forma a projectaram, que hoje passado mais de sessenta anos, ela se mantém viva, actuante e fiel a estes princípios orientadores.
Desde os primeiros tempos da sua existência, foram definidos critérios na aquisição das obras, o que permite hoje afirmar sem qualquer dúvida, ser possuidora de valioso património bibliográfico, constituído por mais de quinze mil títulos, que vão da ficção literária à poesia, passando pela literatura especializada e técnica, especial destaque para a importância das obras, documentos, jornais locais, revistas, recortes, fotografias e teses universitárias referentes à Nazaré, que fazem da Biblioteca da Nazaré um dos principais arquivos históricos deste concelho. Não pode passar sem destaque o importante espólio doado por José Pedro, uma das figuras mais marcantes da Nazaré da primeira metade do século passado, e que pelo seu interesse histórico, torna obrigatório aos investigadores, estudantes, professores e a todos aqueles que pretendam tomar conhecimento sobre a vida e passado desta vila e deste povo, a passagem por esta Biblioteca.
Todo este património é disponibilizado para consulta ou empréstimo, tanto a sócios como a não sócios, com um critério de grande abertura. Importa referir que os seus utentes se espalham pelos diversos escalões etários, sendo no entanto a sua maioria jovens e oriundos da comunidade estudantil.
Debrucemo-nos agora sobre outra componente patrimonial, também ela importante e que interessa aqui referir: trata-se do conjunto dos seus sócios. Cerca de quatro centenas de sócios das mais diversas idades, manifestando a sua maioria grande carinho e atenção pela vida da associação, são porventura a razão da sua longevidade e da dinâmica que tem marcado a sua actividade. Na sua já longa existência, encontramos um número significativo de personalidades importantes da vida cultural e política local e nacional, que de alguma forma deixaram o seu nome ligado à Biblioteca da Nazaré. Citemos alguns: Branquinho da Fonseca – escritor e sócio fundador; José Maria Carvalho Júnior – médico, sócio fundador, Director da B.N. e personalidade de grande sensibilidade cultural; Francine Benoît – musicóloga; Augusto Vítor Coelho – juiz conselheiro; Rui Ferreira e Sousa – jornalista e escritor; Álvaro José Laborinho Lúcio – juiz conselheiro ex. Ministro da justiça; António Manuel Lança Cordeiro – arquitecto, pensamos ser suficiente para atestar da influência da B. N. na vida cultural da Nazaré.

Quanto ao movimento de leitura ou consulta regista uma média anual de 3.044 utilizadores, sendo de realçar que a sua maioria não são sócios da B.N., e que por esse facto, não lhes é exigido qualquer pagamento. Daqui se pode atestar, o carácter público dos serviços que põe ao serviço da comunidade onde está inserida.
Até aqui, temo-nos referido apenas e quase especificamente, à Biblioteca da Nazaré, enquanto depositária de um vasto património documental e literário, no qual se encontra uma parte de extrema importância da nossa memória colectiva, em permanente crescimento e actualização. Mas para além desta faceta da sua actividade, são de realçar as restantes iniciativas culturais desenvolvidas por esta Associação, que pela sua importância e regularidade, têm projectado a Biblioteca da Nazaré como o principal pólo cultural deste concelho.
A organização de uma Feira do Livro anualmente, que já vai na sua XXVI edição, tendo para além da preocupação da divulgação do livro e procurar incentivar o gosto pela leitura, a promoção de um conjunto de iniciativas culturais, que porventura se traduzem no ponto mais alto da sua actividade ao longo do ano. Para além desta iniciativa outras são de destacar, tais como:

-          Colóquios e debates
-          Exposições (pintura, fotografia, artesanato, tapeçaria etc. ...)
-          Comemorações e efemérides.
-          Lançamentos de livros.
-          Cursos de fotografia e teatro.
-          Exibição de peças teatrais e projecção de filmes.
-          Mostras de teatro para a infância e juventude
-          Concursos literários e de fotografia.
-          Várias actividades de promoção do livro e de hábitos de leitura.
-          Publicação de pequenas edições.
-          Espectáculos musicais.
-          Alfabetização e formação profissional.
-          Passeios culturais de divulgação do património histórico e arquitectónico do Concelho.

Por último, destaca-se a aposta na informática, num grande esforço para dotar a Biblioteca com os meios técnicos indispensáveis nos tempos modernos, sempre na procura de possibilitar aos utentes uma melhor utilização dos seus serviços. Foi adquirido equipamento informático moderno, onde destacamos o programa informático DCS Bib.
Para terminar, não podemos deixar de realçar que o conjunto das actividades aqui referidas, só foram possíveis, porque ao longo de toda a sua existência, na B. N. foi criado um espírito de dedicação e de servir a comunidade, extensiva a todas as suas gerações de dirigentes.
Importa ainda realçar, que toda esta actividade, a todos os títulos notável, ganha ainda outra amplitude, se levarmos em consideração os parcos recursos financeiros da Biblioteca, oriundos da quotização dos seus associados, das receitas das Feiras do livro e, por vezes, da atribuição de subsídios pela autarquia.