31 de março de 2011

Melhoramentos locais

A 10 de Junho de 1906 discutia-se na imprensa local a dança dos ministérios e a perspectiva de melhoramentos locais que permitissem a projecção da Nazaré no país.
Arquivo da Biblioteca da Nazaré

Nina Simone

My Baby Just Cares for Me


My baby don't care for shows
My baby don't care for clothes
My baby just cares for me
My baby don't care for cars and races 

My baby don't care for high-tone places

Liz Taylor is not his style
And even Lana Turner's smile
Is somethin' he can't see 

My baby don't care who knows
My baby just cares for me


Baby, my baby don't care for shows
And he don't even care for clothes
He cares for me
My baby don't care
For cars and races 

My baby don't care for
He don't care for high-tone places


Liz Taylor is not his style
And even Liberace's smile
Is something he can't see
Is something he can't see
I wonder what's wrong with baby
My baby just cares for
My baby just cares for
My baby just cares for me


30 de março de 2011

O Teatro na Nazaré em 1906 (parte2)

Arquivo da Biblioteca da Nazaré - Jornal "A Nazareth" - 20 de Setembro de 1906
Clique na imagem para ampliação

Sugestão de Leitura

Deixem passar o Homem Invisível
Rui Cardoso Martins
 
 
Uma cidade mal feita e engenhosa, toda ligada debaixo do chão, em camadas de arqueologia e história

Todos os lisboetas sabem o que acontece a Lisboa quando chove muito: a cidade fica caótica, com inundações e acidentes, é o fim do mundo.

Rui Cardoso Martins começa o seu segundo romance com uma dessas chuvadas diluvianas que se abate sobre Lisboa, e a água invade tudo durante duzentas e tal páginas: "Escorria pela cidade e mais chegava pelos veios que desciam das colinas, por arroios adormecidos e pelas calhas dos eléctricos, numa competição de rios sem nome, ribeiras acabadas de nascer, no meio das avenidas e praças, entrando grossa e gelada para dentro dos subterrâneos (...)" (pág. 173).

É para um subterrâneo, mais precisamente para um tubo de esgoto, que são arrastados dois transeuntes, um advogado cego e um miúdo de oito anos. Num incrível "tour de force", o romancista mantêm-nos presos nesse cano gigantesco até ao fim, quase sem luz, às apalpadelas, encontrando apenas ratos, dejectos e ossadas.

É um pesadelo descrito com uma precisão de linguagem que ajuda a manter intacta a claustrofobia. Engolidos pela terra, cheios de fome, frio e medo, os dois acidentais companheiros contam histórias para se manterem vivos: " (...) o que os podia guiar no espaço e no tempo, e dar-lhes forças, enormes e incomparáveis com qualquer desafio recente que se lhes colocara, era a narrativa.

Era falarem e contarem coisas um ao outro, e histórias e livros, tudo o que aparecesse nas suas cabeças" (pág. 72). O miúdo é muito novo, e tem pouca história, embora já alguns infortúnios. O adulto, em contrapartida, tem uma vida inteira de histórias, quase todas ligadas à sua cegueira.

Ele um "homem invisível" (corruptela de "invisual") atormentado pelo desastre que o cegou em pequeno e que o deixou longe do mundo. António, o cego, não é uma alegoria, e faz questão de o garantir, nada de cegueiras metafóricas, ele é um homem que não vê, que já não vê, e que recusa paternalismos e piedades. Os pais andaram em médicos e curandeiros, até que ele perdeu a esperança, pelo menos a esperança de voltar a ver, porque ele tem mais esperança do que as pessoas que vêem.

Rui Cardoso Martins, que conhecemos como atento cronista e repórter de tribunal, joga com os clichés sobre ceguinhos a vender lotaria e depois fala da velocidade com que os cegos andam e que não sabemos bem qual é, da sua obsessão com a limpeza, os joelhos que os guiam entre obstáculos, a lascívia do seu toque. Se há alguma alegoria nestes cegos é apenas na medida em que Lisboa é mostrada como uma cidade em dois mundos: o visível e o invisível. E, como na crença religiosa, o invisível é o mais importante.

O invisível aqui é a Lisboa "underground", a Lisboa de boqueirões, valas comuns, águas pluviais, passagens secretas, estacas. É uma Lisboa que os lisboetas vão descobrindo a cada pequena catástrofe, a cada obra nova. Lisboa é uma cidade ao mesmo tempo mal feita e engenhosa, toda ligada debaixo do chão, em camadas de arqueologia, de história, de higiene pública.

Rui Cardoso Martins convoca o Grande Terramoto, as cheias de 1967, os incêndios, todas as tragédias de uma cidade que tem no seu código genético um grande terramoto futuro, o terramoto que vai ser a sua destruição. É pois um tom catastrófico, o deste romance, que se afasta da tragicomédia autobiográfica e regionalista do muito recomendável "E se eu gostasse muito de morrer" (2006).

As personagens principais estão aprisionadas, mas "Deixem passar o homem invisível" vai percorrendo Lisboa, por cima e por baixo. De São Sebastião ao Cais das Colunas, é uma viagem por uma perigosa cidade de túneis, às vezes tão infecta como a "Cloaca Máxima" da Roma Antiga. Tal como os túneis, as histórias das pessoas estão todas ligadas, mesmo a daqueles dois sinistrados, e se o romancista força um pouco a nota, também consegue tornar pungente essa correspondência entre o invisível material e o invisível da alma. Alma, diga-se, num sentido estritamente materialista, pois são incontáveis as referências cépticas e cáusticas à religiosidade, quase sempre vista como um lastro invisível de crendices num país sofredor. Há uma passagem notável em que uma personagem secundária (e não totalmente conseguida) desmonta todos os milagres atribuídos a Cristo. É um mágico, esse homem, e acredita mais em Houdini do que em Jesus, mas ainda assim introduz a necessidade de um milagre, sem o qual nada faz sentido.

Enquanto os bombeiros trabalham, durante duzentas páginas, enquanto os protagonistas sobrevivem, durante duzentas páginas, é sobre este milagre, possível ou impossível, que vamos pensando: "O dia chegara a Lisboa, como sempre. Fenícios, cartagineses, romanos, muçulmanos, cristãos nas margens do Tejo olhavam o sol a tocar a fortificação da colina, todas as manhãs de todos os séculos (...), aqui em baixo os comerciantes abasteceram os navios do Império romano, o necrotério debaixo do banco comercial, caves de pedra grossa na Rua da Conceição, descobertas em 1755, uma vez por ano bombeia-se a água e descemos às termas romanas da Baixa, que não são termas, se calhar guardavam pasta de peixe e ânforas. Mas as águas, dizia o povo, curavam a cegueira, uma nascente brotou ali, quente, sulfurosa, no dia do Grande Terramoto. Quando a terra parou, e o maremoto retrocedeu, e o fogo se extinguiu, os cegos de Lisboa passaram a ir lá molhar os olhos, ainda hoje há excursões de cegos, cada um acredita no que quer, Deus distribuiu esperanças infundadas, e outras razoáveis, é por isso que as pessoas vivem à espera do que lhe falta acontecer" (pág. 217).

Enquanto esperamos, acontece tudo e não acontece nada: anotações jornalísticas exactas, compaixão humanista, farpas ao estado da Justiça. E fragmentos, trocadilhos, evocações tristes, uma existência sempre à espera de um milagre. Nem que "milagre" seja o nome que nós damos aos truques. 
                
                                                                                        

A arte de ser feliz - Cecília Meireles

A arte de ser feliz
Cecília Meireles

Houve um tempo em que minha janela se abria sobre uma cidade que parecia
ser feita de giz. Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco.
Era uma época de estiagem, de terra esfarelada, e o jardim parecia morto.
Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde, e, em silêncio, ia atirando
com a mão umas gotas de água sobre as plantas. Não era uma rega: era uma
espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse. E eu olhava para
as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos
magros e meu coração ficava completamente feliz.
Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor. Outras vezes
encontro nuvens espessas. Avisto crianças que vão para a escola. Pardais que
pulam pelo muro. Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais.
Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar.
Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega. Ás vezes, um
galo canta. Às vezes, um avião passa. Tudo está certo, no seu lugar,
cumprindo o seu destino. E eu me sinto completamente feliz.
Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de
cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem
diante das minhas janelas, e outros, finalmente, que é preciso aprender a
olhar, para poder vê-las assim. 

28 de março de 2011

O Teatro na Nazaré em 1906

Ontem assinalou-se o Dia Mundial do Teatro. Durante esta semana publicaremos imagens do arquivo da Biblioteca da Nazaré tratando este assunto, que no início do século XX afirmava-se como da maior importância para o desenvolvimento local.
Arquivo da Biblioteca da Nazaré

24 de março de 2011

Sugestão de Leitura



Há cento e trinta anos, depois de visitar o País das Maravilhas, Alice entrou num espelho para descobrir o mundo ao avesso. Se Alice renascesse em nossos dias, não precisaria atravessar nenhum espelho: bastaria que chegasse à janela. No fim do milênio, o mundo ao avesso está à vista de todos; o mundo tal qual é, com a esquerda na direita, o umbigo nas costas e a cabeça nos pés."




Em De pernas pro ar – A escola do mundo ao avesso, Eduardo Galeano provoca nossas emoções e nossas consciências, como já o fizera no clássico As veias abertas da América Latina no início da década de 70. 


Nestas páginas, que transitam pela ironia e, não raro pela indignação, desfilam uma enorme quantidade de fatos, eventos históricos e jornalísticos que comprovam que o mundo está, de fato, de pernas pro ar, refletindo a nossa incapacidade de harmonizar justiça e liberdade. Verdadeiro, generoso, lírico e às vezes cruel, este livro é um inventário da nossa dura, estranha e injusta realidade. Dono de uma obra emblemática e importante, Eduardo Galeano é um dos mais importantes escritores latino-americanos, com seu nome projetado em todo o mundo com traduções em mais de 20 línguas.


Citação de Eduardo Galeano:


"A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais a alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar". 

22 de março de 2011

Subsídios para a História do Cinema na Nazaré

25/01/1908 - Na rua Mousinho de Albuquerque foi inaugurado o “Salão Edison”animatógrafo pertencente e dirigido por Guilherme Bolander


Jornal "A Nazareth"; 23 de Agosto de 1908
Jornal "A Nazareth"; 30 de Agosto de 1908


15/01/1910 - Faleceu Guilherme Bolander, belga, proprietário do animatógrafo “Salão Edison”. Tendo estado estabelecido nos Açores, e sendo seu feitio aventureiro, abalou um dia para a América do Norte, e por lá tomou conhecimento com as descobertas e progressos da fotografia animada, apresentada pelo grande Edison. Trabalhou e poupou quanto lhe foi possível, para arranjar o capital necessário para a compra de um aparelho e passagem para os Açores e ali foi exibir à infância o cinema, passando-se depois ao continente. Depois de alguma permanência em Lisboa, passou à província, vindo fixar residência na Nazareth, onde se tornou popularíssimo pela maneira como fazia a descrição das fitas projectadas no ecrã. Sem família e tendo adoecido gravemente, recolheu ao hospital do Sítio, onde terminou os seus dias.


Jornal "A Nazareth" - 18 de Janeiro de 1910







Reflectir sobre o Movimento Associativo

No arranque deste blogue estabelecemos como uma das suas prioridades, a reflexão sobre os problemas do Movimento Associativo na nossa localidade e no país. Este primeiro texto é da autoria de Augusto Flor, presidente da CPCCRD - Confederação Portuguesa das Colectividades de Cultura, Recreio e Desporto.

Esperamos que todos os interessados nesta matéria tão sensível para a nossa comunidade nos façam chegar as suas reflexões. Todos os contributos serão valorizados.


"Caros colegas Dirigentes Associativos

Na minha função de Presidente da Direcção da nossa Confederação, tenho oportunidade de falar com centenas de Dirigentes Associativos que, de forma privada ou em público, me manifestam as dificuldades que encontram na sua actividade associativa. Dessas dificuldades há uma que sobressai - a dificuldade de arranjar pessoas disponíveis para fazer parte dos órgãos sociais, particularmente das direcções. Há ainda os casos de uma direcção chegar a meio do mandato com metade dos eleitos.

"Estas dificuldades sempre existiram" - pensarão uns. "Já não há quem queira ser dirigente de borla" - pensarão outros. " O associativismo está em crise" - pensarão ainda outros. De facto, a julgar por aquilo que aqui ou ali se vai ouvindo, parece um fatalismo. Parece que não há nada a fazer para se alterar esta situação.

Pela minha parte, o que sinto é a necessidade de reflectirmos sobre esta situação e tomarmos medidas. A grande maioria dos Dirigentes Associativos Voluntários e Benévolos, são trabalhadores por conta de outrém. As relações de trabalho em Portugal têm vindo a ser sucessivamente alteradas em prejuízo dos trabalhadores (operários, empregados, intelectuais, quadros técnicos, etc,) ao ponto de um Dirigente não poder garantir, com certeza, sobre a sua disponibilidade mental e temporal para o exercício da actividade associativa.

A precariedade, a deslocalização, a flexibilização dos horários, destruiu toda a teia de relações sociais ao ponto de desestruturar as famílias, os grupos de amizade, as relações sociais de proximidade e de pertença. Hoje, muitos dirigentes tem-no afirmado "sei a hora de entrada no emprego mas não sei a hora de saída". "Sei que hoje trabalho a 20 km de casa, mas amanhã posso estar a 200 km de casa".

A lei 20/2004 - Estatuto do Dirigente Associativo Voluntário que possibilita que os Dirigentes Associativos possam tratar de assuntos da sua Colectividade no período normal de trabalho (crédito de horas), quando é evocada, ou é interpretada da forma menos favorável aos trabalhadores ou lá vêm as ameaças veladas e em tom intimidatório "ou trabalhas aqui, ou és dirigente associativo...tens que escolher". Claro que perante estas situações, muitos dirigentes nem chegam a usar o direito que a lei consagra.

Mas, como se este estado de coisas já não fosse suficientemente grave, aí está um novo ataque aos direitos dos trabalhadores com profundos e nefastos reflexos no associativismo. O chamado "Livro Branco das Relações Laborais", trás mais uma série de "recomendações" que a serem transpostas para leis, poriam em causa o já difícil funcionamento das Colectividades. O que está em preparação é o alargamento dos horários de trabalho até às 12 horas diárias, 60 horas por semana, podendo essas horas serem concentradas em dois ou três dias (incluindo fins de semana). No fundo, teríamos um agravamento da flexibilidade que pode conduzir à exaustão física e mental do trabalhador.

Pergunta-se: - Onde fica a disponibilidade para o associativismo
- para as reuniões que garantem a reflexão e a decisão colectivas?
- Quem pode garantir o acompanhamento das crianças e jovens nas suas actividades associativas?
- Os Dirigentes, os seccionistas, os treinadores, os massagistas na sua grande maioria voluntários, onde vão arranjar tempo para preparar, treinar, acompanhar as equipas?
- Quem garante o funcionamento das escolas de música?
- Quem garante os ensaios do teatro de amadores?


Estas e muitas outras questões devem ser respondidas por quem pretende aprofundar um sistema já de si muito injusto e desigual.

Perante esta situação, atrevo-me a afirmar que não estamos perante um fatalismo. Estamos perante políticas erradas que urgem mudar. Não há uma crise no associativismo. Há uma crise na sociedade que se reflecte no associativismo. O associativismo continua a fazer sentido, a ser necessário e até mesmo indispensável. Sem o associativismo Portugal seria mais pobre, mais injusto e com mais excluídos sociais.

Os Dirigentes Associativos Voluntários não podem ficar expectantes. Têm que reagir contra estas medidas, quer nos seus locais de trabalho, quer nas suas associações e colectividades. Não servirá de nada o nosso trabalho solidário dentro da nossa colectividade, se na sociedade avança o despotismo, a injustiça e a desigualdade social.

Sem Dirigentes Associativos, não há associativismo!

Augusto Flor, Dr. Presidente da Direcção"


21 de março de 2011

Poema de Al Berto

Pernoitas em Mim


pernoitas em mim
e se por acaso te toco a memória... amas
ou finges morrer

pressinto o aroma luminoso dos fogos
escuto o rumor da terra molhada
a fala queimada das estrelas

é noite ainda
o corpo ausente instala-se vagarosamente
envelheço com a nómada solidão das aves

já não possuo a brancura oculta das palavras
e nenhum lume irrompe para beberes





Poeta português, natural de Sines. Al Berto frequentou diversos cursos de artes plásticas, em Portugal e em Bruxelas, onde se exilou em 1967. A partir de 1971 dedicou-se exclusivamente à literatura. Estreou-se com o título À Procura do Vento no Jardim de Agosto (1977). A sua poesia retomou, de algum modo, a herança surrealista, fundindo o real e o imaginário. Está presente, frequentemente, uma particular atenção ao quotidiano como lugar de objectos e de pessoas, de passagem e de permanência, de ligação entre um tempo histórico e um tempo individual. Por vezes, os seus textos apresentam um carácter fragmentário, numa ambiguidade entre a poesia e a prosa (Lunário, 1988; e O Anjo Mudo, 1993).
A sua obra poética engloba Trabalhos do Olhar (1982), Salsugem (1984), O Medo/Trabalho Poético, 1976-1986 (prémio de poesia de 1987 do Pen Club), O Livro dos Regressos (1989), A Secreta Vida das Imagens (1991), Luminoso Afogado (1995) e Horto de Incêndio (1997). Deixou incompletos textos para uma ópera, para um livro de fotografia sobre Portugal e uma «falsa autobiografia», como o próprio autor a intitulava.

21 de Março - Dia de Poesia

Vem, serenidade!




Vem, serenidade!
Vem cobrir a longa
fadiga dos homens,
este antigo desejo de nunca ser feliz
a não ser pela dupla humidade das bocas.

Vem, serenidade!
faz com que os beijos cheguem à altura dos ombros
e com que os ombros subam à altura dos lábios,
faz com que os lábios cheguem à altura dos beijos.






20 de março de 2011

Cântico Negro de José Régio (interpretado por João Villaret)



Cântico negro

José Régio


"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!


José Régio
, pseudônimo literário de José Maria dos Reis Pereira, nasceu em Vila do Conde em 1901. Licenciado em Letras em Coimbra, ensinou durante mais de 30 anos no Liceu de Portalegre. Foi um dos fundadores da revista "Presença", e o seu principal animador. Romancista, dramaturgo, ensaísta e crítico, foi, no entanto, como poeta. que primeiramente se impôs e a mais larga audiência depois atingiu. Com o livro de estréia — "Poemas de Deus e do Diabo" (1925) — apresentou quase todo o elenco dos temas que viria a desenvolver nas obras posteriores: os conflitos entre Deus e o Homem, o espírito e a carne, o indivíduo e a sociedade, a consciência da frustração de todo o amor humano, o orgulhoso recurso à solidão, a problemática da sinceridade e do logro perante os outros e perante a si mesmos.

Sugestão de Leitura

Pobres e Ricos


A “Globalização Contemporânea” último estádio do Capitalismo?


No presente estudo pretendemos apenas chamar a atenção para a necessidade do olhar a sociedade contemporânea, procurando compreender a sua racionalidade com base nos factos que podemos observar e analisar, para lá das ideologias e dos discursos panfletários que procuram convencer, mais do que esclarecer. Esquece-se quase sempre que tanto a democracia, como os Direitos Humanos, como o direito de voto, como a igualdade de género, como a liberdade de expressão, como a segurança social, são fruto, não de uma benesse da “economia de mercado” mas foram conquistados ao longo do século XX pelas lutas operárias e camponesas, pelas greves e manifestações, pelas forças sociais que a “economia de mercado” sempre utilizou apenas como mão-de-obra necessária à criação de mais-valia, essa sim, não partilhada nem “democratizada”. 

«O Prof. Mário Moutinho, com este livro, chamou mais uma vez a atenção de que Lénine também tinha razão quando afirmava que “nada há de mais prático do que uma boa teoria”.» (Fernando dos Santos Neves – Criador da 1ª licenciatura portuguesa em Ciência Política)



Índice:

Prefácio

Introdução

1 – A construção do sistema capitalista: a concentração das empresas

2 – A concentração dos bancos e o capital financeiro

3 – O capital financeiro e os países capitalistas pobres

4 – A partilha do Mundo e o estado de Guerra permanente

5 – Um exército sempre presente

6 – A desigualdade da distribuição e a globalização da pobreza

Em forma de conclusão

Bibliografia citada

Índice de quadros

Índice de gráficos e mapas

Abreviaturas



O AUTOR:

Mário Moutinho foi docente na Universidade de Lisboa e actualmente na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. É Arquitecto DPLG pela Escola Nacional das Belas Artes de Paris, e doutorado em Antropologia Cultural pela Universidade de Paris VII-Jussieu / Universidade Nova de Lisboa.


Publicou A Arquitectura Popular em Portugal, Introdução à Etnologia, e História da pesca do Bacalhau, por uma Antropologia do Fiel Amigo, na Editorial Estampa e entre outros o Indígena na Ideologia Colonial Portuguesa nas Edições Universitárias Lusófonas.
É autor de vasta bibliografia na área da Sociomuseologia e do desenvolvimento Cultural e Social.

Detalhes:

Ano: 2011
Capa: capa mole
Tipo: Livro
N. páginas: 254
Formato: 23x16
ISBN: 978-989-689-078-0

O Amor em Visita

O AMOR EM VISITA

Dai-me uma jovem mulher com sua harpa de sombra
e seu arbusto de sangue. Com ela
encantarei a noite.
Dai-me uma folha viva de erva, uma mulher. 
Seus ombros beijarei, a pedra pequena
do sorriso de um momento.
Mulher quase incriada, mas com a gravidade
de dois seios, com o peso lúbrico e triste
da boca. Seus ombros beijarei.

Cantar? Longamente cantar,
Uma mulher com quem beber e morrer.
Quando fora se abrir o instinto da noite e uma ave
o atravessar trespassada por um grito marítimo
e o pão for invadido pelas ondas,
seu corpo arderá mansamente sob os meus olhos palpitantes
ele - imagem inacessível e casta de um certo pensamento
de alegria e de impudor.

Seu corpo arderá para mim
sobre um lençol mordido por flores com água.
Ah! em cada mulher existe uma morte silenciosa;
e enquanto o dorso imagina, sob nossos dedos,
os bordões da melodia,
a morte sobe pelos dedos, navega o sangue,
desfaz-se em embriaguez dentro do coração faminto.
- Ó cabra no vento e na urze, mulher nua sob
as mãos, mulher de ventre escarlate onde o sal põe o espírito,
mulher de pés no branco, transportadora
da morte e da alegria.

Dai-me uma mulher tão nova como a resina
e o cheiro da terra.
Com uma flecha em meu flanco, cantarei. 

E enquanto manar de minha carne uma videira de sangue,
cantarei seu sorriso ardendo,
suas mamas de pura substância,
a curva quente dos cabelos.
Beberei sua boca, para depois cantar a morte
e a alegria da morte. 

Dai-me um torso dobrado pela música, um ligeiro
pescoço de planta,
onde uma chama comece a florir o espírito.
À tona da sua face se moverão as águas,
dentro da sua face estará a pedra da noite.
- Então cantarei a exaltante alegria da morte. 

Nem sempre me incendeiam o acordar das ervas e a estrela
despenhada de sua órbita viva. 

- Porém, tu sempre me incendeias.
Esqueço o arbusto impregnado de silêncio diurno, a noite
imagem pungente
com seu deus esmagado e ascendido.
- Porém, não te esquecem meus corações de sal e de brandura. 

Entontece meu hálito com a sombra,
tua boca penetra a minha voz como a espada
se perde no arco.
E quando gela a mãe em sua distância amarga, a lua
estiola, a paisagem regressa ao ventre, o tempo
se desfibra - invento para ti a música, a loucura
e o mar.

Toco o peso da tua vida: a carne que fulge, o sorriso,
a inspiração.
E eu sei que cercaste os pensamentos com mesa e harpa.
Vou para ti com a beleza oculta,
o corpo iluminado pelas luzes longas.
Digo: eu sou a beleza, seu rosto e seu durar. Teus olhos
transfiguram-se, tuas mãos descobrem
a sombra da minha face. Agarro tua cabeça
áspera e luminosa, e digo: ouves, meu amor?, eu sou
aquilo que se espera para as coisas, para o tempo -
eu sou a beleza.
Inteira, tua vida o deseja. Para mim se erguem
teus olhos de longe. Tu própria me duras em minha velada beleza.

Então sento-me à tua mesa. Porque é de ti
que me vem o fogo.
Não há gesto ou verdade onde não dormissem
tua noite e loucura,
não há vindima ou água
em que não estivesses pousando o silêncio criador.
Digo: olha, é o mar e a ilha dos mitos
originais.
Tu dás-me a tua mesa, descerras na vastidão da terra
a carne transcendente. E em ti
principiam o mar e o mundo.

Minha memória perde em sua espuma
o sinal e a vinha.
Plantas, bichos, águas cresceram como religião
sobre a vida - e eu nisso demorei
meu frágil instante. Porém
teu silêncio de fogo e leite repõe
a força maternal, e tudo circula entre teu sopro
e teu amor. As coisas nascem de ti
como as luas nascem dos campos fecundos,
os instantes começam da tua oferenda
como as guitarras tiram seu início da música nocturna.

Mais inocente que as árvores, mais vasta
que a pedra e a morte,
a carne cresce em seu espírito cego e abstracto,
tinge a aurora pobre,
insiste de violência a imobilidade aquática.
E os astros quebram-se em luz sobre
as casas, a cidade arrebata-se,
os bichos erguem seus olhos dementes,
arde a madeira - para que tudo cante
pelo teu poder fechado.
Com minha face cheia de teu espanto e beleza,
eu sei quanto és o íntimo pudor
e a água inicial de outros sentidos. 

Começa o tempo onde a mulher começa,
é sua carne que do minuto obscuro e morto
se devolve à luz.
Na morte referve o vinho, e a promessa tinge as pálpebras
com uma imagem.
Espero o tempo com a face espantada junto ao teu peito
de sal e de silêncio, concebo para minha serenidade
uma ideia de pedra e de brancura.
És tu que me aceitas em teu sorriso, que ouves,
que te alimentas de desejos puros.
E une-se ao vento o espírito, rarefaz-se a auréola,
a sombra canta baixo.

Começa o tempo onde a boca se desfaz na lua,
onde a beleza que transportas como um peso árduo
se quebra em glória junto ao meu flanco
martirizado e vivo.
- Para consagração da noite erguerei um violino,
beijarei tuas mãos fecundas, e à madrugada
darei minha voz confundida com a tua. 

Oh teoria de instintos, dom de inocência,
taça para beber junto à perturbada intimidade
em que me acolhes. 

Começa o tempo na insuportável ternura
com que te adivinho, o tempo onde
a vária dor envolve o barro e a estrela, onde
o encanto liga a ave ao trevo. E em sua medida
ingénua e cara, o que pressente o coração
engasta seu contorno de lume ao longe.
Bom será o tempo, bom será o espírito,
boa será nossa carne presa e morosa.
- Começa o tempo onde se une a vida
à nossa vida breve.

Estás profundamente na pedra e a pedra em mim, ó urna
salina, imagem fechada em sua força e pungência.
E o que se perde de ti, como espírito de música estiolado
em torno das violas, a morte que não beijo,
a erva incendiada que se derrama na íntima noite
- o que se perde de ti, minha voz o renova
num estilo de prata viva.

Quando o fruto empolga um instante a eternidade
inteira, eu estou no fruto como sol
e desfeita pedra, e tu és o silêncio, a cerrada
matriz de sumo e vivo gosto.
- E as aves morrem para nós, os luminosos cálices
das nuvens florescem, a resina tinge
a estrela, o aroma distancia o barro vermelho da manhã.
E estás em mim como a flor na ideia
e o livro no espaço triste.

Se te apreendessem minhas mãos, forma do vento
na cevada pura, de ti viriam cheias
minhas mãos sem nada. Se uma vida dormisses
em minha espuma,
que frescura indecisa ficaria no meu sorriso?
- No entanto és tu que te moverás na matéria
da minha boca, e serás uma árvore
dormindo e acordando onde existe o meu sangue. 

Beijar teus olhos será morrer pela esperança.
Ver no aro de fogo de uma entrega
tua carne de vinho roçada pelo espírito de Deus
será criar-te para luz dos meus pulsos e instante
do meu perpétuo instante.
- Eu devo rasgar minha face para que a tua face
se encha de um minuto sobrenatural,
devo murmurar cada coisa do mundo
até que sejas o incêndio da minha voz.

As águas que um dia nasceram onde marcaste o peso
jovem da carne aspiram longamente
a nossa vida. As sombras que rodeiam
o êxtase, os bichos que levam ao fim do instinto
seu bárbaro fulgor, o rosto divino
impresso no lodo, a casa morta, a montanha
inspirada, o mar, os centauros do crepúsculo
- aspiram longamente a nossa vida.

Por isso é que estamos morrendo na boca
um do outro. Por isso é que
nos desfazemos no arco do verão, no pensamento
da brisa, no sorriso, no peixe,
no cubo, no linho, no mosto aberto
- no amor mais terrível do que a vida.

Beijo o degrau e o espaço. O meu desejo traz
o perfume da tua noite.
Murmuro os teus cabelos e o teu ventre, ó mais nua
e branca das mulheres. Correm em mim o lacre
e a cânfora, descubro tuas mãos, ergue-se tua boca
ao círculo de meu ardente pensamento.
Onde está o mar? Aves bêbedas e puras que voam
sobre o teu sorriso imenso.
Em cada espasmo eu morrerei contigo. 

E peço ao vento: traz do espaço a luz inocente
das urzes, um silêncio, uma palavra;
traz da montanha um pássaro de resina, uma lua
vermelha.
Oh amados cavalos com flor de giesta nos olhos novos,
casa de madeira do planalto,
rios imaginados,
espadas, danças, superstições, cânticos, coisas
maravilhosas da noite. Ó meu amor,
em cada espasmo eu morrerei contigo.

De meu recente coração a vida inteira sobe,
o povo renasce,
o tempo ganha a alma. Meu desejo devora
a flor do vinho, envolve tuas ancas com uma espuma
de crepúsculos e crateras. 

Ó pensada corola de linho, mulher que a fome
encanta pela noite equilibrada, imponderável -
em cada espasmo eu morrerei contigo. 

E à alegria diurna descerro as mãos. Perde-se
entre a nuvem e o arbusto o cheiro acre e puro
da tua entrega. Bichos inclinam-se
para dentro do sono, levantam-se rosas respirando
contra o ar. Tua voz canta
o horto e a água - e eu caminho pelas ruas frias com
o lento desejo do teu corpo.
Beijarei em ti a vida enorme, e em cada espasmo
eu morrerei contigo.

                             Herberto Helder

19 de março de 2011

OCUPAR ABRIL,TOMAR DE ASSALTO O MÊS DE MAIO

OCUPAR ABRIL,
TOMAR DE ASSALTO O MÊS DE MAIO


Perante o crescente desinvestimento na cultura por parte do Estado, das autarquias e de outras entidades competentes, as organizações com intuitos meramente culturais sentem-se cada vez mais asfixiadas no seu trabalho quotidiano recorrendo, “in extremis", a “patrocínios” e “mecenatos” de sectores apenas preocupados com o lucro “político” e “fiscal” a obter nesse tipo de apoios.


De igual modo sente-se, também, uma enorme dificuldade na divulgação pública das actividades desenvolvidas fora do âmbito institucional, seja pelo silenciamento assumidamente praticado pela comunicação social, seja pela exigência absurda de antecipação das agendas culturais
instituídas, que não se compadecem com um ritmo de trabalho de programação de organizações “ pequenas” em que o voluntariado e a luta por causas são a sua “pedra de toque”.

O projecto “80 anos de Zeca” constituiu, de facto, um paradigma a esse nível: facultou às entidades intervenientes, por várias vezes, a experiência de se fazer bastante e bem com muito pouco dinheiro. Potenciou a experiência de vivenciar o que a força de trabalho de cada um, em conjunto, pôde criar, sem necessidade de recurso ou subserviência a ninguém e, convenhamos, com alguma divulgação pública!

É neste contexto, com todo o acervo do saber adquirido que vimos propor–vos, pessoas colectivas ou a título individual , o projecto "OCUPAR ABRIL, TOMAR DE ASSALTO O MÊS DE MAIO”. Estes são os meses de todos os sonhos que queremos bem vincados como datas de cultura, de luta, de liberdade, de fraternidade, de conhecimento, de estudo, de solidariedade, de memória e de vontade de construção de um mundo novo.


Desta proposta que vos lançamos queremos que saia a vontade de “ocupar e assaltar” a cidade, o país e outras partes do mundo com iniciativas culturais, lembrando e criando memória sobre figuras ou factos, ímpares nos diversos caminhos da Utopia, tantas vezes convenientemente relegadas ao esquecimento pelos senhores do “quero, posso e mando”.

Pretende-se com este projecto que as entidades e pessoas que a ele aderirem, durante os meses de Abril e Maio de 2011, concretizem iniciativas temáticas, lembrando homens e mulheres, gente da cultura (erudita ou popular), factos, datas, épocas, acontecimentos, formas de acção depensadores, que sejam por si reconhecidas como marcantes neste caminho da construção de um mundo sem muros nem ameias, logo mais justo e mais fraterno.

De alguns nomes, factos e experiências, a título meramente exemplificativo, nos fomos
lembrando: Zeca Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Victor Jara, Violeta Parra, José Gomes Ferreira, Padre “Max”, Bertold Brecht, Lopes Graça, Dias Coelho, Mário Viegas, República de 1910, Mário Dionísio, Ary dos Santos, 25 de Abril, Sofia de Mello Breyner, Resistência ao Salazarismo, António Aleixo, Carlos Paredes, 1º de Maio, Salgueiro Maia, Comuna de Paris, Emídio Santana, Festival de Woodstock, Bento de Jesus Caraça, Escola de Bauhaus, Soeiro Pereira Gomes, Maio de 68, Luther King, Rómulo de Carvalho (António Gedeão), Castelao, Alexandre Bóveda, Rachel Corrie, Lutas Estudantis, Aristides Sousa Mendes, Wooddy Guthrie, Guernica, Movimento Sindical, Guerra do Vietname, Rosalia de Castro, Garcia Lorca, Dario Fo, Harold Pinter, Clara Zetkin, Que Cultura?, Maria Lamas, Léo Ferré… e quanto(a)s mais?!


Assim, os próximos meses serão de empenho a nível organizativo, das actividades que decorrerão entre Abril e Maio: formalizar adesões a este projecto, potencializar o surgimento de ideias, propor um logótipo, estabelecer (ou não) parcerias, organizar uma agenda, enfim, alargar o projecto ao resto do país e a outros locais no mundo. Naturalmente que todas as iniciativas subjacentes a este projecto decorrerão sob o lema proposto e com o respectivo logótipo a caracterizá-las! Tudo isto porque a cultura, a resistência e a luta acontecem quando o Ser Humano quer, não quando os senhores do poder ou os mecenas do lucro deixam.

Além do mais… o capital mais importante da humanidade somos TODOS NÓS!
Da parte do núcleo do norte da Associação José Afonso … todo (a)s poderão contar com
tudo o que tivermos na palma da mão e com o resto que fizer falta!(?)

18 de março de 2011

Sugestão de Teatro - KABARET KEUNER e outras histórias de Bertolt Brecht

Neste conjunto de pequenas histórias e apotegmas, de dúvida burlesca e de afirmações de recorte clownesco – Keuner é um clown pensador, nele espreita o parvo vicentino e o bobo de Shakespeare, longínquos parentes próximos – que José Carlos Faria seleccionou, montou e interpreta, viajamos por dentro de um pensamento inquieto e não saltando por um trajecto aleatório de raciocínios soltos, como se salta sobre as pedras de uma ponte improvisada nas águas de um ribeiro.


Fernando Mora Ramos, encenador do espectáculo, refere-se a Keuner como o “alter-ego de Brecht nas suas próprias histórias, ele é um contador de histórias. Mas mais que pensador, ou pensador de uma dada forma, Keuner é um perguntador que quando faz afirmações coloca outras tantas dúvidas”. O próprio Fernando Ramos coloca uma questão – “mas ao que aí vem, a queda mais que provável deste esquema pobre e podre, que dirá o senhor Keuner, de novo tão necessário pelo espírito indagador? Para velhas questões, novas perguntas claro”.


(...)
se os tubarões fossem homens, os peixinhos deixariam de ser iguais como agora são. Alguns deles obteriam cargos e passariam a ficar acima dos outros. Os maiorzinhos teriam mesmo o direito de comer os mais pequenos. Apenas para os tubarões isto seria agradável porque teriam possibilidade de comer, mais vezes, bocados maiores. (...)



Kabaret Keuner está em cena nos dias 12, 18, 19 e 27 de Março, às 21h30, na Sala Estúdio do Teatro da Rainha.


Ficha Artística
Tradução | José Carlos Faria (cotejada pelos trabalhos de Paulo Quintela, Arnaldo Saraiva e Luís Bruheim, Maria Hermínia Brandão)
Versão cénica | José Carlos Faria
Encenação | Fernando Mora Ramos
Interpretação | José Carlos Faria
Bilhete Normal – €7.50
Bilhete Desconto (Estudantes e Séniores) – €4.00
Classificação Etária M/16 anos
Duração | 1h00 sem intervalo

Dois Poemas de Fernando Pessoa

             Para ser grande, sê inteiro


Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes. 

Assim em cada lago a lua toda 
Brilha, porque alta vive.




Poema contra Salazar


Coitadinho
Do tiraninho!
Não bebe vinho.
Nem sequer sozinho...
Bebe a verdade
E a liberdade,
E com tal agrado
Que já começam
A escassear no mercado.
Coitadinho
Do tiraninho!
O meu vizinho
Está na Guiné,
E o meu padrinho
No Limoeiro
Aqui ao pé,
Mas ninguém sabe porquê.
Mas, enfim, é
Certo e certeiro
Que isto consola
E nos dá fé:
Que o coitadinho
Do tiraninho
Não bebe vinho,
Nem até
Café.

29-03-1935

17 de março de 2011

Laboratório de Poesia Sonora

Brevemente na Biblioteca da Nazaré

«A minha longa vida deu-me uma série de motivos para me indignar».
Quem escreve é Stéphane Hessel, 93 anos, herói da Resistência francesa, sobrevivente dos campos de concentração nazis e um dos redactores da Declaração Universal dos Direitos Humanos. É com a autoridade moral de um resistente inconformado e de um lutador visionário que Stéphane Hessel nos alerta, neste breve manifesto, para o facto de existirem hoje tantos e tão sérios motivos para a indignação como no tempo em que o nacionalsocialismo ameaçava o mundo livre. Se procurarmos, certamente encontraremos razões para a indignação: o fosso crescente entre muito pobres e muito ricos, o estado do planeta, o desrespeito pelos emigrantes e pelos direitos humanos, a ditadura intolerável dos mercados financeiros, a injustiça social, entre tantos outros. Aceitemos o desafio de Stéphane Hessel, procurando neste livro e no mundo que nos rodeia os motivos para a insurreição pacífica, pois "cabe-nos a todos em conjunto zelar para que a nossa sociedade se mantenha uma sociedade qual nos orgulhemos."

Inside Job - A Verdade da Crise

Através de uma pesquisa extensiva e entrevistas com economistas, políticos e jornalistas, "Inside Job - A Verdade da Crise", mostra-nos as relações corruptas existentes entre as várias partes da sociedade. Narrado pelo actor Matt Damon e realizado por Charles Fergunson, este é o primeiro filme que expõe a verdade acerca da crise económica de 2008.

 A catástrofe, que custou mais de $20 triliões, fez com que milhões de pessoas tenham perdido as suas casas e empregos. 


Inside Job – A Verdade da Crise venceu o Óscar para melhor documentário.




14 de março de 2011

Sugestão de Leitura

Há cerca de dois anos, surgiu, no Porto, o FERVE - Fartas/os d'Estes Recibos Verdes.

Tinha como objectivo denunciar situações de uso abusivo de recibos verdes e promover um espaço de debate acerca desta realidade laboral. Designou-se este fenómeno como 'falsos recibos verdes'; um fenómeno que atinge 900 mil pessoas em Portugal, ou seja, quase 1/5 das/os trabalhadores/as em Portugal.

Ao longo destes dois anos, este movimento tem colaborado na visibilização, denúncia e dinamização de diversas lutas, cuja persistência tem trazido para a praça pública a discussão sobre esta condição laboral.

Assinalam-se dois anos de existência constatando que a expressão 'falsos recibos verdes' está ganha mas a sua existência persiste. Dois anos num momento em que a precariedade alastra no mercado laboral português. Dois anos em que Portugal regista a mais alta taxa de desemprego dos últimos anos.

Optou-se, assim, por assinalar estes dois anos de luta com a edição de um livro onde se cruzam testemunhos de vidas precárias, reflexões de activistas contra a precariedade, intervenções de investigadores/as, jornalistas e sindicalistas.

"2 anos a FERVEr: retratos da luta, balanço da precariedade" é o título deste livro de 130 páginas, editado pela Afrontamento, que conta com dez testemunhos de trabalhadores/as a recibos verdes, ilustrados por Catarina Falcão, Chico, Gémeo Luís, Isabel Lhano, João Alves, Luís Silva, Paulo Anciães Monteiro, Rui Vitorio dos Santos.

O livro "2 anos a FERVEr: retratos da luta, balanço da precariedade", conta também com as contribuições de:

Carvalho da Silva: Secretário Geral da CGTP-IN
Henrique Borges: Sindicato dos Professores do Norte e membro da CGTP
Elísio Estanque: Sociólogo - Centro de Estudos Sociais, Universidade de Coimbra
Castro Caldas: Economista - Centro de Estudos Sociais, Universidade de Coimbra
Sofia Cruz: Socióloga - Faculdade de Letras, Universidade do Porto
Ana Maria Duarte: Socióloga - Centro de Estudos Sociais, Universidade do Minho
São José Almeida: jornalista do Público
Sandra Monteiro: jornalista do Monde Diplomatique
Alexandra Figueira: jornalista
Regina Guimarães: escritora
valter hugo mãe: escritor
Tiago Gillot: Precários Inflexíveis
José Soeiro: Sociólogo e activista do MayDay
Luísa Moreira: activista do MayDay
Luís Silva: activista do MayDay