17 de agosto de 2012

Poemas de Adonis




Amor

Amam-me o caminho, a casa
e na casa uma jarra vermelha
amada pela água,
amam-me o vizinho
o campo, a debulha, o fogo,
amam-me braços que trabalham
contentes do mundo descontentes
e os arranhões acumulados no peito
exaurido do meu irmão atrás
das espigas, da estação, como rubis
mais rubros que o sangue.
Nasci e nasceu comigo o deus do amor
— que fará o amor quando eu me for?


Canções para a Morte

1.
A morte quando passa por mim é como se
o silêncio a abafasse
é como se dormisse quando eu dormisse.


2.
Ó mãos da morte, alonguem meu caminho
meu coração é presa do desconhecido,
alonguem meu caminho
quem sabe descubro a essência do impossível
e vejo o mundo ao meu redor.





16 de agosto de 2012

Monólogo da Alma - Texto Concorrente à Prova Literária

Mediante autorização do autor, publicamos este texto participante na Prova Literária que decorreu na Feira do Livro deste ano. Ao autor deixamos aqui o nosso agradecimento.




Eu sou existência.
            Sem mim, a poderosa máquina que representa o corpo humano é uma casca vazia, um navio sem tripulação; a essência incorpórea que me constitui personaliza o meu hospedeiro, traçando-lhe o seu carácter, mantendo acesa a chama da vida, como a corrente de ar alimenta as brasas de uma fogueira.
Eu sou consciência.
            Mantenho activa uma base de dados, tal como um computador, contendo registos que permitem a esta entidade diferenciar o bem ou o mal, o que está correcto e o que representa uma transgressão, balancear as acções e as suas consequências, o que é ético e o que é amoral; o poder de sentenciar, como um deus;  a distinção entre agredir um semelhante ou magoar uma planta, destruir um ser humano ou matar uma formiga…
Eu sou força.
            É isso que impede aquele a quem sirvo de desistir perante os apuros da sua vivência; ainda que que tudo o mais falhe, represento a última muralha de defesa do ser humano, enquanto tal. Esse traço pode definir uma pessoa mais ou menos forte, mais ou menos resoluta, mais ou menos hesitante, mais ou menos confiante…
            Eu sou vários conceitos; espírito, coração, carácter, paixão…
            Mas serei eu imortal?
            Qual será o meu destino quando o corpo no qual eu vivo deixar de respirar?
            O meu eu intelecto analisa neste momento um trecho de um certo poema, esforçando-se por lhe atribuir algum significado e transcrevê-lo, na esperança de obter daí um resultado que seja a resposta que ele anseia, mas as linhas que observa apresentam-se difusas e ele tem alguma dificuldade em abarcar o verdadeiro sentido do seu autor. Através de uma pesquisa efectuada na grande rede que gere, manipula e unifica a informação mundial, ele consegue perceber que as palavras foram proferidas por alguém do sexo feminino, após a sombra da sua humanidade a ter abandonado. E dirige essas palavras a um seu semelhante, de sexo contrário. Mas na verdade, a intenção desses vocábulos é obscura. Terá sido o cetim propositadamente escolhido, para servir uma determinada intenção? E porque comparar o seu corpo a um traço no firmamento? Terá o autor decidido que estes termos comparativos seriam os ideais para esculpir a sua ideia?
            E que ideia imana do conjunto dessas chavões semânticos?
            No meu eu consciente, como uma aurora matinal, nasceu uma afinidade com a mulher do poema. Será que, da mesma forma que ela, após a morte deste corpo físico, as amarras do meu cativeiro quebrar-se-ão e eu serei livre para deambular no Universo, sem tempo contado, porque esse conceito não se aplica nessa dimensão? E quem é a mulher do poema? Terá realmente existido? Será um retrato estereotipado de alguma mulher do círculo de vivências do autor? Ou será uma musa do autor, a sua fonte de inspiração?
            De que trata realmente o poema, senão da morte?
            Por mais que se esforce, o meu eu intelecto não descortina as verdadeiras intenções do autor do poema, mas as conotações inerentes às suas linhas perspectivam algo obscuro, doentio, confuso, porque o conceito de morte está associado a tristeza, pesar, desordem, ainda que para alguns crentes numa nova vida a morte do corpo signifique uma passagem para outra dimensão, onde afinal tudo é belo e paradisíaco ou tudo é tragédia eterna, conforme nós cumprimos com mais ou menos proficiência a nossa missão na terra.
            Acredito que a imortalidade fará parte da nossa matriz. Como ela se manifestará, é algo que me transcende, pois a omnisciência não faz, invariavelmente, parte da minha essência. Talvez seja um pouco como o poeta descreve e eu deambule, acabrunhando alguém deste lado. Não o apreciaria, contudo, mas só Deus saberá no que me tornarei.
            Insatisfeito com a solução encontrada para o desafio proposto pelo poeta, o meu eu intelecto busca por novas energias inspiradoras, mas o rio que percorre é pequeno e dos seus afluentes não brota o líquido regenerador que ele ansiava, mas, como já aqui devo ter mencionado, a teimosia é um traço inerente à sua personalidade.
Lenta, mas decididamente, principia resolutamente a escrever, deixando a outros o julgamento das suas palavras.
            “Eu sou existência.”…
                                                              Vitor Silva (sob o pseudónimo Mário Jardim)


14 de agosto de 2012

Feira do Livro da Nazaré - Cancelamento da Conversa com o escritor João Tordo

Boa Tarde,

Devido a compromissos profissionais inadiáveis o escritor João Tordo foi forçado a adiar a sua presença na Nazaré, prevista para hoje pelas 22 horas, para uma outra oportunidade. A todos, a Biblioteca da Nazaré e o escritor enviam as suas desculpas pelo incómodo que esta situação possa ter causado.

A Biblioteca da Nazaré

Hoje na Feira do Livro - O Quebra Cabeças



O Quebra-Cabeças

     Ilustração de Mariana Rio

     Texto de Helena Carvalho


  O Quebra-Cabeças nasceu em Março de 2012 como o nº 6 da coleção Notas à Solta editada pela Eterogémeas (Porto).
  O livro, que conta com texto de Helena Carvalho e ilustração de Mariana Rio, dirige-se a um público infanto-juvenil e pretende problematizar as noções de corpo e de beleza. Para aprofundar a sua leitura, foi criado um roteiro com 12 atividades que poderão ser desenvolvidas por pais e educadores em casa, escolas, bibliotecas, ATL, etc., ou pela escritora e/ou ilustradora se solicitado. Trata-se do resultado de um projecto que começou em 2010 e que tem tido um percurso luminoso:

- Finalista, na categoria de ilustração, do CJ Picture Book Awards, Seoul, Coreia do Sul (2010);
- Integrou a lista dos "100 livros para o futuro" que representaram Portugal na recente Feira do Livro Infantil de Bolonha (2012);
- Medalha de mérito atribuída à ilustradora pela 3x3 Magazine of Contemporary Illustration, pelo que irá figurar na 3x3 Children’s Illustration ProShow Annual no final deste Verão (2012).



7 de agosto de 2012

Feira do Livro - Ronda Literária


Na sua terceira edição, esta iniciativa procura conjugar o prazer da tertúlia literária e gastronómica com a descoberta de espaços particulares que abrem as portas aos visitantes, permitindo-lhes um momento único de confraternização e descoberta.

3 de agosto de 2012

Hoje na feira do Livro - O Monge Detective na Abadia de Alcobaça


Este livro juvenil associa os factos históricos ao fantástico, relatando a vida de um jovem noviço da Ordem de Cister, que sonha ser um grande aventureiro. Filipe de Vasconcelos, assim se chama o monge, irá passar por grandes peripécias e perigos e encontrar um pergaminhos secreto, um tesouro medieval e até ajudar a salvar o Rei de Portugal.

2 de agosto de 2012

Recordar a Utopia de Zeca


Hoje o Zeca faria 83 anos...Saudades do Homem e da sua Utopia.


Cidade
Sem muros nem ameias
Gente igual por dentro
Gente igual por fora
Onde a folha da palma
afaga a cantaria
Cidade do homem
Não do lobo, mas irmão
Capital da alegria

Braço que dormes
nos braços do rio
Toma o fruto da terra
É teu a ti o deves
lança o teu desafio

Homem que olhas nos olhos
que não negas
o sorriso, a palavra forte e justa
Homem para quem
o nada disto custa
Será que existe
lá para os lados do oriente
Este rio, este rumo, esta gaivota
Que outro fumo deverei seguir
na minha rota?

Hoje na Feira do Livro - Aristides de Sousa Mendes



Os homens são do tamanho dos valores que defendem. Aristides de Sousa Mendes foi, talvez por isso, um dos poucos heróis nacionais do século XX e o maior símbolo português saído da II Guerra Mundial. Em 1940, quando era cônsul em Bordéus, protagonizou a "desobediência justa". Não acatou a proibição de Salazar de se passarem vistos a refugiados: transgrediu e passou 30 mil, sobretudo a judeus. Foi demitido compulsivamente. A sua vida estilhaçou-se por completo. "É o herói vulgar. Não estava preso a causas. Estava preso a uma questão fundamental: a sua consciência", afirma o jornalista Ferreira Fernandes.

30 de julho de 2012

37º Feira do Livro - Prova Literária


REGULAMENTO

  1. Destina-se esta prova a indivíduos maiores de 16 (dezasseis) anos;
  2. A data limite para entrega do texto a concurso será dia 09 (nove) de Agosto de 2012, até às 24h, no espaço onde se realiza a Feira do Livro (Centro Cultural da Nazaré);
  3. Deverão os concorrentes inscrever-se na Feira do Livro; por carta endereçada à sede da Biblioteca da Nazaré; através de correio electrónico, até ao dia 09 (nove) de Agosto de 2012, carecendo sempre de apresentação de documento de identidade, na forma presencial ou por digitalização do documento;
  4. É limitado o número de concorrentes aos primeiros 30 (trinta) inscritos;
  5. Constará a prova de um texto, em prosa ou em verso (conto, crónica, prosa poética, poesia versificada), a partir de um mote, igual para todos, que será dado aos participantes no acto de inscrição
  6. O texto a concurso não poderá exceder o espaço de duas páginas A4 (em caso de manuscrito), nunca ultrapassando 80 (oitenta) linhas de texto;
  7. O texto a concurso deverá ser entregue no interior de um envelope em branco. O texto deverá ser identificado por pseudónimo. No interior do envelope deverá ser incluído um outro envelope que contenha a identificação real do participante. Este envelope deverá apenas conter no exterior o pseudónimo do concorrente. Quem não obedecer a estas regras será automaticamente excluído do concurso;
  8. Presidirá à prova um júri de 3 (três) elementos nomeados pela Biblioteca da Nazaré, entidade organizadora da prova;
  9. Far-se-á apreciação dos textos tendo em atenção a qualidade literária, independentemente da extensão ou do género escolhido;
  10. Consideram-se, para a apreciação qualitativa, os seguintes parâmetros: apuro linguístico; originalidade; imaginação; capacidade de síntese; facilidade expositiva; equilíbrio estético e exploração da proposta apresentada.
  11. Haverá um primeiro classificado, a quem será atribuído, como prémio, um conjunto de livros, no valor de 200 € Será comunicada a decisão do júri dia 12 de Agosto de 2012 na Feira do Livro, em horário a anunciar, não podendo haver qualquer recurso;
  12. Disporá a Biblioteca da Nazaré de todos os textos apresentados a concurso, para efeito de eventual publicação.
  13. É reservado ao júri o direito de não atribuir prémio, tanto por falta de qualidade dos textos como por outra razão ponderável;
  14. Será garantido, a todos os participantes, o direito de reserva de anonimato através de pseudónimo na avaliação dos textos e na sua publicação.

29 de julho de 2012

Hoje na Feira do Livro - Teresa Nascimento



Maria Teresa Nascimento é natural da Nazaré, doutorada em Letras, na área de Literatura Portuguesa, pela Universidade de Coimbra. É Professora Auxiliar da Universidade da Madeira e membro do seu Conselho Geral. É membro investigador do Centro Interuniversitário de Estudos Camonianos... Uma oportunidade de conhecer e aprender

28 de julho de 2012

Hoje na Feira do Livro - à Conversa com Alexandre Esgaio


Alexandre Esgaio nasceu na Nazaré, num sítio alto com vista para o mar, a 16 de Setembro de 1973. Tirou o curso de Psicologia Clínica em Coimbra, mas começou a gostar demasiado de livros quando trabalhou numa livraria de Lisboa, onde foi o responsável pela secção infantojuvenil. Desde então dedicou-se ao desenho e à ilustração, colaborando em diversas publicações destinadas a crianças. Tem um blogue chamado Maria Macaréu, onde se percebe, entre outras coisas, que gosta muito da Maria, de banda desenhada e de fanzines. Vive em Lisboa.

26 de julho de 2012

Hoje na Feira do Livro - Donos de Portugal


Hoje na Feira do Livro... Ver, Ouvir e Conversar com Jorge Costa, o autor de um dos documentários mais importantes sobre o nosso país.

11 de maio de 2012

BERNARDO SASSETTI (1970 – 2012) Antes da hora mas para lá do tempo


Maria João Seixas - Bernardo, diz-me quem és. 
Bernardo Sasseti - Que difícil! Sou um terrestre, muitas vezes feliz, mas um terrestre que caminha de uma forma muito aérea, muito suspensa, à procura de qualquer coisa, sobretudo na música, que ainda não sabe muito bem o que é. E isso inquieta-me o espírito. Sempre. Vivo com esta inquietação vinte e quatro horas por dia. 

1 de maio de 2012

Cantigas do Maio - A Mulher da Erva


ZECA AFONSO

A Mulher da Erva
Velha da terra morena
Pensa que e já lua cheia
Vela que a onda condena
Feita em pedaços na areia

Saia rota
Subindo a estrada
Inda a noite
Rompendo vem
A mulher
Pega na braçada
De erva fresca
Supremo bem

Canta a rola
Numa ramada
Pela estrada
Vai a mulher
Meu senhor
Nesta caminhada
Nem m'alembra
Do amanhecer

Há quem viva
Sem dar por nada
Há quem morra
Sem tal saber
Velha ardida
Velha queimada
Vende a fruta
Se queres comer
A noitinha
A mulher alcança
Quem lhe compra
Do seu manjar
Para dar
À cabrinha mansa
Erva fresca
Da cor do mar

Na calçada
Uma mancha negra
Cobriu tudo
E ali ficou
Anda, velha
Da saia preta
Flor que ao vento
No chão tombou


No Inverno
Terás fartura
Da erva fora
Supremo bem
Canta rola
Tua amargura
Manhã moça
... nunca mais vem







24 de abril de 2012

Abril Cravos Mil - Salgueiro Maia




Salgueiro Maia

Ficaste na pureza inicial
do gesto que liberta e se desprende
havia em ti o símbolo e o sinal
havia em ti o herói que não se rende.


Outros jogaram o jogo viciado
para ti nem poder nem a sua regra
conquistador do sonho inconquistado
havia em ti o herói que não se integra.


Por isso ficarás como quem vem
dar outro rosto ao rosto da cidade
Diz-se o teu nome e sais de Santarém
trazendo a espada e a flor da liberdade.

Manuel Alegre

21 de abril de 2012

Em Abril Cravos Mil - Poemarma de Manuel Alegre

Poemarma, de Manuel Alegre
Operário em Construção, 
Voz de Mário Viegas, Música Original de Luís Cília

Que o poema tenha rodas motores alavancas
que seja máquina espectáculo cinema.
Que diga à estátua: sai do caminho que atravancas. 
Que seja um autocarro em forma de poema. 

Que o poema cante no cimo das chaminés 
que se levante e faça o pino em cada praça 
que diga quem eu sou e quem tu és 
que não seja só mais um que passa.

Que o poema esprema a gema do seu tema 
e seja apenas um teorema com dois braços. 
Que o poema invente um novo estratagema
para escapar a quem lhe segue os passos.

Que o poema corra salte pule 
que seja pulga e faça cócegas ao burguês 
que o poema se vista subversivo de ganga azul 
e vá explicar numa parede alguns porquês

Que o poema se meta nos anúncios das cidades 
que seja seta sinalização radar 
que o poema cante em todas as idades 
(que lindo!) no presente e no futuro o verbo amar.

Que o poema seja microfone e fale 
uma noite destas de repente às três e tal 
para que a lua estoire e o sono estale 
e a gente acorde finalmente em Portugal.

Que o poema seja encontro onde era despedida. 
Que participe. Comunique. E destrua 
para sempre a distância entre a arte e a vida. 
Que salte do papel para a página da rua
.
Que seja experimentado muito mais que experimental 
que tenha ideias sim mas também pernas 
E até se partir uma não faz mal: 
antes de muletas que de asas eternas . 

Que o poema fique. E que ficando se aplique 
A não criar barriga a não usar chinelos. 
Que o poema seja um novo Infante Henrique 
Voltado para dentro. E sem castelos.

Que o poema vista de domingo cada dia 
e atire foguetes para dentro do quotidiano. 
Que o poema vista a prosa de poesia 
ao menos uma vez em cada ano. 

Que o poema faça um poeta de cada 
funcionário já farto de funcionar. 
Ah que de novo acorde no lusíada 
a saudade do novo o desejo de achar.

Que o poema diga o que é preciso 
que chegue disfarçado ao pé de ti 
e aponte a terra que tu pisas e eu piso. 
E que o poema diga: o longe é aqui. 

15 de abril de 2012

Em Abril Cravos Mil - Cantar Alentejano


Um poema de Jose Afonso, “ilustro-animado-analogicamente”,

Chamava-se Catarina
O Alentejo a viu nascer
Serranas viram-na em vida
Baleizão a viu morrer
Ceifeiras na manhã fria
Flores na campa lhe vão pôr
Ficou vermelha a campina
Do sangue que então brotou
Acalma o furor campina
Que o teu pranto não findou
Quem viu morrer Catarina
Não perdoa a quem matou
Aquela pomba tão branca
Todos a querem p’ra si
Ó Alentejo queimado
Ninguém se lembra de ti
Aquela andorinha negra
Bate as asas p’ra voar
Ó Alentejo esquecido
Inda um dia hás-de cantar

13 de abril de 2012

Em Abril Cravos Mil - Linha Vermelha

Linha Vermelha recua a 1975, altura em que o alemão Thomas Harlan realiza o documentário Torre Bela, sobre a ocupação de uma grande herdade no Ribatejo, propriedade dos duques de Lafões. Este filme transformou-se num ícone do período revolucionário português: a discussão sobre a quem pertence uma enxada da cooperativa, a ocupação do palácio, o encontro com os militares em Lisboa e o processo de formação de uma nova comunidade… 37 anos depois, José Filipe Costa revisita esse filme emblemático, reencontrando os seus protagonistas e a sua equipa. Qual foi o impacto da presença da câmara sobre os acontecimentos? Que recordações guardam os protagonistas da ocupação? Que influência tem hoje o filme sobre a memória dessa experiência? Os mitos e a revolução são revistos por Linha Vermelha, que mostra como Torre Bela continua a marcar a história de um período conturbado do país.

"A questão central de "Linha Vermelha" não é: "Como é que o cinema mostrou os acontecimentos de Torre Bela?". A questão central é fundamentalmente diferente. A saber: "Como é que o cinema participou nos acontecimentos de Torre Bela?" Na prática, decompõe-se aqui qualquer ilusão "descritiva" do próprio cinema: o filme "Torre Bela" foi parte activa de tudo aquilo que se viveu em Torre Bela.

Os resultados deixam-nos uma curiosa sensação: revisitar as memórias dos filmes é, de uma só vez, reler as suas significações e repô-los no labirinto da história que integraram. "Linha Vermelha" contraria qualquer visão pitoresca (logo, televisiva) dos tempos quentes do 25 de Abril, lembrando-nos como é importante não aceitar a redução desses tempos a uma qualquer caricatura, seja ela ideológica ou moral. Afinal, foram homens e mulheres que, realmente, viveram os acontecimentos. Realmente e, por vezes, cinematograficamente." (João Lopes)


                                                                               


12 de abril de 2012

Em Abril Cravos Mil - Zeca e Adriano



Ficha Técnica "AMIGOS MAIORES": Animação criada por Rogério Ribeiro a partir do logótipo criado pela CulturePrint para o projecto "Amigos maiores que o pensamento".

Fotos retiradas de https://amigosmaioresqueopensamento.wordpress.com
Música (extractos): "Trova do vento que passa" -
Adriano Correia de Oliveira "Traz outro amigo também" - José Afonso

11 de abril de 2012

Em Abril Cravos Mil - O Homem é Livre quando Quer

Em Abril Cravos Mil - Adriano Correia de Oliveira




Nascido no Porto e criado em Avintes, Adriano chegou a Coimbra em Outubro de 1959 para frequentar o curso de Direito, com apenas 17 anos, num tempo de agitação social propícia a impulsos e à mudança. Anos antes, a década de 50 – no pós-guerra – , tinha sido uma época marcada por fortes repressões. Só o movimento das eleições presidenciais de Humberto Delgado (em 1958) viria a ser “uma espécie de lufada de ar fresco”. Agora, “o país parecia mobilizar-se em toda a sua extensão, as pessoas tinham perdido um pouco o receio de falar”, recorda Louzã Henriques. Nessa altura começa também a surgir “um certo tipo de música, com as baladas, um certo tipo de leitura e de arte, factores que vão ter influência na forma de pensar o mundo”. E tudo isso chegou a Coimbra...
Na cidade dos estudante de então, o fado vivia uma época de mudança, com o contributo de cantores como Edmundo Bettencourt (fundador da Presença e que se tornou lendário como compositor e intérprete da canção de Coimbra) ou Artur Paredes. Mas Adriano “bebeu” outras influências graças uma geração de ouro: a de Fernando Machado Soares, que encetou a renovação do fado de Coimbra. “Havia um movimento de ideias muito intenso e profundamente dinâmico, propício à mudança”, refere o etnólo.
Em 1959, o então estudante de Direito inscreveu-se como primeiro-tenor no Orfeão Académico e, inevitavelmente, juntou-se às vozes do fado de Coimbra. A Academia e a cidade proporcionavam a Adriano novos horizontes intelectuais. Aí entrou em contacto com os problemas da sua geração, que eram os problemas de uma juventude em rota de colisão com o regime. Na década de 60 participou também no Grupo Universitário de Danças Regionais da Associação Académica de Coimbra e no CITAC – Círculo de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra, onde representou várias peças.
Viveu, primeiro, numa residência de estudantes. No ano lectivo de 61/62 transferiu-se para a Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, voltando para a Universidade de Coimbra no ano seguinte. Passou então a viver na república Rás-Te-Parta que, em 1963 serviu de sede de candidatura à unidade democrática, concorrente para as eleições da Associação Académica patrocinada pelo Conselho das Repúblicas.
“Nessa época, as repúblicas eram “templos” de uma certa boémia tertulial. Ali chegavam as influências que corriam no mundo e as que ainda estariam nas próprias tensões criadas pelo ambiente político de Portugal. Discutia-se com grande à vontade”, recorda Louzã Henriques. “As repúblicas, os cafés e a própria organização associativa, neste caso concreto a associação académica, forneciam um campo de experiências, ao nível das artes, ao nível da afirmação de direitos, ao nível da afirmação da posição da academia em relação ao poder, o que começava a representar uma agitação de ordem intelectual”, relata.
Entre 1960 e 1980 Adriano gravou 90 títulos, deixando uma das obras musicais mais ricas da segunda metade do século.
Tal como outros músicos em Portugal ou no exílio, também Adriano Correia de Oliveira fez da música um acto de intervenção. A “Trova do Vento que Passa” , escrita por Manuel Alegre e por ele cantada, constituem uma referência ímpar das músicas de intervenção em Portugal contra o regime fascista e um hino do movimento estudantil.
Quando lhe faltava uma cadeira para terminar o curso de Direito, Adriano trocou Coimbra por Lisboa, trabalhou no Gabinete de Imprensa da Feira Industrial de Lisboa (FIL) e foi produtor da Editora Orfeu.
Na fase final da sua vida – Adriano viria a falecer a 16 de Outubro de 1982, com 40 anos, em Avintes vitimado por uma hemorragia esofágica – foi acompanhado à guitarra por Paulo Vaz de Carvalho (hoje docente da licenciatura em Ensino da Música na Universidade de Aveiro), que teve um papel fundamental nessa época. “Era muito rigoroso e um excelente artista e amigo”, lembra o médico.
Adriano nunca deixou Coimbra e, das muitas vezes que regressou, ficou hospedado em casa do seu amigo Louzã Henriques. O médico, que esteve quatro anos preso em Peniche por oposição ao regime, não acompanhou a vida académica de Adriano, mas a amizade, que nasceria naos mais tarde, permaneceu até ao fim dos seus dias. Hoje, quando fala do companheiro de luta e de sonhos, Louzã Henriques não esconde a saudade.
“Para a altura em que ele cantou certas coisas, foi um homem valente. Cantou coisas em que se afirmava, num tempo em que a repressão era muito violenta”, lembra o médico. Todavia, “encarou isso sempre com grande coragem, com grande postura. Não era um homem de inocências políticas. Era um homem que sabia perfeitamente o que queria e por que lutava. Nasceu para ser livre e para ser artista”.

4 de abril de 2012

Em Abril Cravos Mil - Década de Salomé




Vai terminar esta prosa 
Estamos na década de Salomé 
Será o Apocalipse ou a torneira 
a pingar no bidé? 

É meio dia dia de feira 
mensal em Vila Nogueira 
Estamos na década do bricolage 
Diz o jornal que um emigra 
morreu afogado em Mira 
Antes da data 
Do mariage 

Estamos na Europa 
civilizada 
já cá faltava 
uma maison 
pour la patrie 
p´lo Volkswagen 
acabou-se a forragem 
viva o patron! 

Já tem destino esta terra 
vamos mudar para o marché aux puces 
o tempo das ceroilas está no fio 
agora só de trousses. 

É meio dia dia de feira 
mensal em Vila Nogueira 
Estamos na década do bricolage 
Diz o jornal que um emigra 
morreu afogado em Mira 
Antes da data 
Do mariage. 

Saem quarenta mil ovos moles 
Vilar Formoso 
é logo ali 
faz-se um enxerto 
com mijo de gato 
Sola de sapato 
voilá Paris! 

Aos grandes supermercados 
chega cultura num bi-camion 
Camões e Eça vendem-se enlatados 
lavados com «champon» 

É meio dia dia de feira 
mensal em Vila Nogueira 
Estamos na década do bricolage 
Diz o jornal que um emigra 
morreu afogado em Mira 
Antes da data 
Do mariage 

Estamos na Europa 
radarizada 
já cá faltava 
uma turquês 
para o controle 
do bravo e do manso 
vivaço e do tanso 
em cada mês! 

A fina flor do entulho 
largou o pêlo ganhou verniz 
Será o Christian Dior o manajeiro 
a mandar no país? 

Estamos da Europa 
do «estou-me nas tintas» 
nada de colectivismos 
chacun por si, meu 
e chacun por soi 
tê vê e cama 
depois da esgaça 
até que lhes dê a traça 
a culpa é toda 
do erre Hagá. 

Levam-te à caça 
dos gambuzinos 
com dois ouriços 
em cada mão 
ai velha fibra 
do bairro de Alfama 
a carcaça do Gama 
vai a leilão!

3 de abril de 2012

Em Abril Cravos Mil - Soneto à Liberdade

LIBERDADE
Liberdade onde estás? Quem te demora?
Que faz que o teu influxo em nós não caia?
Porque foste de mim!, porque não raia
Já na esfera de Lísia a tua aurora?
  
Da santa redenção é vinda a hora
A esta parte do mundo que desmaia
Oh!, Venha... Oh! Venha, e trémula descaia
Despotismo feroz, que nos devora!

Eia! acode ao mortal que, frio e mudo
Oculta o  pátrio amor, fora a vontade
E um fingir, por temor empenha estudo.
  
Movam nossos grilhões tua piedade;
Nosso númen tu és, e glória, e tudo,
Mãe do génio e prazer, ó Liberdade!

 Manuel Maria B. du Bocage


Convocatória de Assembleia-Geral


CONVOCATÓRIA


Assembleia-Geral


De acordo com o preceituado nos Estatutos e Regulamento Interno da Biblioteca da Nazaré, convoco todos os associados para uma Assembleia-Geral ordinária, a realizar no próximo dia 6 de Abril de 2012 pelas 21 horas na sua sede social.

ORDEM DE TRABALHOS

Ponto – 1: Informações.
Ponto – 2: Aprovação do Relatório de Contas do exercício do ano 2011.


Nota: Se à hora marcada não estiverem presentes 50% dos sócios, de acordo com as normas estatutárias, a Assembleia funcionará 30 minutos depois, com qualquer número de sócios presentes.

A participação dos sócios nesta Assembleia é importante para a vida da nossa Biblioteca, pelo que apelamos à sua presença.

23 de março de 2012

Visita a Casa do Xana (Alexandre Esgaio)


Onde Moram as Casas
Texto Carla Maia de Almeida
Ilustração Alexandre Esgaio
Edição Caminho


Há janelas neste livro, mas olham mais para dentro que para fora. A autora começa por dizer: “As pessoas moram nas casas, mas o contrário também é verdade. As casas moram nas pessoas.” Tem razão. Depois, entra sem cerimónia, mas com delicadeza, nas “assoalhadas” de cada um de nós: coração-cozinha; sonho-sótão; cave-medo. Compara abraços a grandes salões de festa e aconselha a “bater à porta”, mesmo perante os que “são como quartos muito bem arrumados”. Um passeio poético em queCarla Maia de Almeida vai bem acompanhada. O ilustrador Alexandre Esgaio revela-se um belo “decorador” de interiores e de exteriores... Numa expressão colorida, mas não berrante, cria imagens inesperadas com pormenores bem-humorados.Pressente-se boa vizinhança

Conheça o blogue do ilustrador aqui 

21 de março de 2012

Eugénio de Andrade - As palavras Interditas




As Palavras InterditasOs navios existem, e existe o teu rosto 
encostado ao rosto dos navios. 
Sem nenhum destino flutuam nas cidades, 
partem no vento, regressam nos rios. 

Na areia branca, onde o tempo começa, 
uma criança passa de costas para o mar. 
Anoitece. Não há dúvida, anoitece. 
É preciso partir, é preciso ficar. 

Os hospitais cobrem-se de cinza. 
Ondas de sombra quebram nas esquinas. 
Amo-te... E entram pela janela 
as primeiras luzes das colinas. 

As palavras que te envio são interditas 
até, meu amor, pelo halo das searas; 
se alguma regressasse, nem já reconhecia 
o teu nome nas suas curvas claras. 

Dói-me esta água, este ar que se respira, 
dói-me esta solidão de pedra escura, 
estas mãos nocturnas onde aperto 
os meus dias quebrados na cintura. 

E a noite cresce apaixonadamente. 
Nas suas margens nuas, desoladas, 
cada homem tem apenas para dar 
um horizonte de cidades bombardeadas. 

Eugénio de Andrade, in “Poesia e Prosa”